Texto por Ailton Souza
Durante algum tempo eu, João Paiva (empresário e surfista) e Daniel Knijnik (geólogo e surfista) nos reunimos para surfar as ondas grandes da Praia do Cardoso, em Laguna – Santa Catarina. Nessas idas e vindas surgiu a idéia de fazermos uma surf trip e já que o foco eram as ondas grandes, não foi difícil de escolher o nosso destino: Punta de Lobos – Pichilemu, no Chile.
Depois de várias reuniões e monitoramento de swell a data foi escolhida, seria no dia 07 de Outubro. Mas se enganou quem pensou que aquele final de semana seria só de preparativos para a viagem! A convite do Thiago Jacaré, no dia anterior à nossa partida (06/10) nós enfrentamos um dia inteiro de ondas grandes na Laje da Jagua, surfando muito e registrando tudo. Depois disso, tivemos um tempinho para descansar e na madrugada seguinte pegamos a estrada para atravessar os quase 3 mil km entre Garopaba e Punta de Lobos, porque ao que tudo indicava, no dia 10 entraria um swell grande por lá. A nossa idéia inicial para essa surf trip era pegar o primeiro swell e ficar mais alguns dias surfando em Pichilemu e na sequência ir pro sul em busca de outras ondas.
A parte mais difícil da viagem foi atravessar a Argentina. Na primeira blitz, policiais locais acusaram diversas irregularidades e começaram a listar as multas. Nessa ocasião, os policiais avisaram que os pagamentos poderiam ser feitos ali na hora ou através de boleto bancário. E ainda que tenhamos escolhido pagar através de boleto, a polícia não aliviou e insistiu muito para que os pagamentos fossem feitos ali mesmo. O porquê disso vocês devem saber. Depois de quase 2h parados, conseguimos seguir viagem e começamos a ligar a câmera em todas a blitz que aconteceram depois. Foram mais de 20 paradas no total e pudemos perceber o poder de uma câmera ligada! A câmera intimidava a polícia, que, na maior parte das abordagens seguintes só pediu os documentos e mandou seguir. Então fica a dica para a galera que for fazer uma surf trip e tiver que passar pela Argentina de carro: liguem suas câmeras!
Foram três dias na estrada filmando as blitz argentinas e curtindo o visual incrível da Cordilheira dos Andes, até conseguirmos chegar ao primeiro destino: Pichilemu.
Já chegamos sendo presenteados com um pôr do sol sensacional no dia 09. A missão então era achar um lugar para descansar porque no dia seguinte entraria o esperado swell. Escolhemos ficar mais perto do pico, no Hostel La Sirena, lugar muito bom, com preço justo onde fomos muito bem recebidos.
Acordamos cedo no dia 10 e fomos ao encontro de um surfista local Chacha Ibarra, que havia conhecido o Daniel alguns anos antes no Peru. Ele nos recebeu muito bem e nos deus várias dicas sobre as ondas. Depois de alguns minutos de aula com o Chacha, marcamos encontro às 10h na praia e voltamos para o hostel onde tomamos um café reforçado. Chegada a hora, fomos todos ao local combinado enfrentar o desafio de entrar no mar.
Séries entre 08 e 10 pés rolando e uma forte corrente tornavam tudo mais difícil, mas mesmo assim João e Daniel com muita personalidade pularam das pedras e remaram até o pico. Logo em seguida Chacha e Cristian Merello se juntaram aos dois na água. João e Daniel fizeram o dever de casa, remaram nas grandes ondas sem medo, enquanto Chacha pegou a maior do dia e Merello fez a alegria do fotógrafo pegando uma onda entre as tetas. Para comemorar o sucesso do primeiro dia de surf em Punta de Lobos, Chacha nos convidou para um churrasco a noite em sua casa. Nunca poderíamos imaginar sermos tão bem recebidos num lugar pela galera local!
Nos dois dias seguintes o vento norte entrou e bagunçou bastante o mar pela região, e foi aí que decidimos descer 270 km ao sul, até a cidade de Buchupureo. Partimos no dia 12 e no caminho fomos parando em várias praias para conhecer. Bucalemu, Llico, Lloca, Constitución, Pelluhue, Curanipe… o sul do Chile é fantástico! Passamos por uma praia que gostamos muito, chamada Pullay (fica a 8km de Buchupureo). Naquele momento estava pequeno, mas as linhas estavam lindas e ali parecia rolar altas ondas. Seguimos até o destino e pegamos uma pousada para descansar.
No dia seguinte acordamos cedo, preparamos um café caprichado e decidimos então voltar até Pullay para conferir o mar. Chegamos na praia e estava rolando altas ondas, uma esquerda linda quebrava ao lado as pedras. Nos preparamos e quando eu comecei a fazer algumas imagens chegaram uns nativos cortando o meu barato. Eles ameaçaram pegar o meu equipamento se eu não parasse de fotografar imediatamente. E apesar de terem cortado a vibe em que eu estava, o João e o Daniel puderam pegar altas ondas durante aquela manhã, que só melhorava a cada minuto, enquanto eu filmava tudo com os olhos, apenas. Assim que os nativos foram embora, eu tentei fazer algumas fotos de dentro do carro, mas como estava muito longe, nem uma lente 400mm deu conta.
Nos dois dias seguintes (14 e 15) o surf foi em Buchupureo. No primeiro dia rolaram altas ondas, a crowd tomou conta do pico e como era feriado em Santiago, a galera desceu toda pro sul. As horas passavam e o mar só melhorava, chegando a séries de até 10 pés. O sul do Chile é um verdadeiro parque de diversões para os surfistas! No segundo dia em Buchupureo o mar baixou, mas mesmo assim ainda rolaram esquerdas perfeitas durante o dia todo.
Depois de dois dias intensos de surf em Buchupureo, o vento norte apertou e bagunçou tudo. Saímos novamente em busca de algum lugar para surfar e Rinconada apresentou condições menos piores do que as outras praias da região. Decidimos parar e até rolou um surf, mas nada especial. Um novo swell surgiu para Punta de Lobos no dia 18 e decidimos voltar para o norte, já que no sul o vento norte que entrou estragou o mar. Chegamos em Pichilemu no fim da tarde do dia 17 e nos hospedamos no hostel La Sirena novamente. Relaxamos cedo já que o dia seguinte prometia altas ondas no mar de Punta de Lobos.
Acordamos cedo no dia 18 e fomos olhar o mar. Estava impecável: sol, céu azul, mar liso e pouca corrente. Voltamos até o hostel para tomar um café reforçado e depois partimos pro surf. Dessa vez chegamos mais cedo, eram 8h e o João e o Daniel já estavam preparados nas pedras para pular na água. Apesar de não ter tanta corrente, como no primeiro swell, a segunda vez foi mais complicado já que entrou uma série e varreu os dois para próximo a praia. Depois de uns 20 minutos remando, conseguiram chegar no pico e esperar as séries que entravam entre 15 e 20 pés. João pegou as duas primeiras ondas, a segunda mesmo foi uma bomba daquelas que fez valer o dia. Enquanto Daniel esperou mais e dropou uma da série que valeu o ano! Logo depois chegou o surfista e ídolo chileno, Ramon Navarro, que em 20 minutos pegou umas cinco ondas. Foi um dia para fechar o surf desta trip com chave de ouro.
A viagem estava chegando ao fim e o último compromisso, já no dia 19, era a palestra do geólogo Daniel Barbosa Knijnik para uma turma de uma escola de surf, no Centro Cultural Agustín Ross. Chacha Ibarra foi quem intermediou tudo e foi um sucesso! Entre 20 e 30 crianças assistiram o Daniel falar de geologia e surf. Depois de uma hora de muito bate papo e dúvidas tiradas, chegou o momento de voltar pra casa. Saindo do centro cultural já pegamos a estrada e começamos o processo de volta. Essa foi a primeira de muitas surf trips que deverão acontecer entre João, Daniel e eu.
Queremos fazer um agradecimento especial a todos apoiadores dessa jornada: Buena Onda Hamburgueria, Atlântico Sul Imobiliária, SurfLocker, Buarque Advogados, Restaurante La Rural, Garopaba Surf House, Index Krown, GeoSurf, Alfajores Odara, GranoSquare, Magic Island Wax, Amazon Tastes, Roger Crust Tattoo, Waves, Pampa Barrels e SurfMappers.