No Surfmappers, a rotina envolve ver milhares de fotografias de surf durante o trabalho. Todo dia rola um “Caramba! Olha essa, que animal!”. Por isso a seleção das imagens que são divulgadas nas nossas redes sociais nunca é fácil, mas especialmente quando entram sessions do Ailton Souza, essa escolha se torna ainda mais complicada.
A correria diária entre um emprego que ajuda a bancar as contas e a rotina de horas de pé na beira da praia fazendo foto da galera surfando tem valido à pena. O trabalho dele vem despontando na cena catarinense e o reconhecimento é cada vez maior.
Então hoje, nesse dia mundial da fotografia, queremos reverenciar o talento desse cara e de todos que contribuem para que a fotografia de surf seja mais valorizada. Leia abaixo a entrevista na qual ele conta pra gente como é o seu dia-a-dia como fotógrafo de surf e confira, na finaleira, as respostas dele pra um ping pong só com as suas fotos.
Ailton, hoje tu tem 33 anos e já existe um reconhecimento pelo teu trabalho, que é incrível! Tu não surfa. Me conta como foi o início dessa caminhada. O que te motivou a fazer fotografia de surf?
Bom, o início sempre é difícil, né. Comecei por brincadeira, depois comecei a acompanhar meus amigos e fotografar e filmar eles. Não cobrava nada, era tudo na parceria e na diversão. A gente alugava um buggy nos finais de semana e saia em busca das ondas. E foi passando dias, meses e anos fazendo aquilo, o pessoal sempre gostando e elogiando.Foi quando comecei a me interessar mais. Foi onde tudo começou!
Quando tu percebeu que a fotografia de surf poderia ser um trabalho pra ti?
Apesar de fotografar há mais de dez anos, foi há uns cinco anos que comecei a olhar com outros olhos a fotografia. Por ser uma cidade turística todos vem pra Garopaba e gostam de ter uma lembrança. E a galera que vem surfar não é diferente. Foi onde comecei a me equipar e estudar mais sobre a fotografia pra tá sempre evoluindo e fazer um ótimo trabalho.
Tu também faz imagens aéreas de paisagens do litoral catarinense. Tem algum tipo de foto em específico que tu mais goste de fazer?
A que eu mais gosto de fazer é de surf. Mas não fico somente no surf, gosto de paisagens também, gosto de fazer alguns vídeos com drone. Resumindo eu gosto de tudo!
Como é a tua rotina como fotógrafo de surf? Tem algum ritual que tu sempre faça?
É tranquila, costumo acordar entre 06h30 e 07h e já vou olhando os grupos de whatsapp pra ficar sabendo onde tão rolando as ondas. Galera do surf sempre acorda mais cedo do que eu. Mesmo olhando as dicas eu sempre vou na Silveira primeiro e, se não tiver surf, vou pra Ferrugem. São as duas praias praticamente que mais fotografo. Às vezes, rola uma ida com amigos até a Villa, em Imbituba e no Cardoso, em Laguna.
A gente costuma ver muita imagem dos fotógrafos clicando na areia e usando fones de ouvido. Tu curte? Se sim, a trilha sonora influencia o tipo de foto que tu faz?
Não curto ficar de fone, gosto mais de escutar o barulho do mar, dos pássaros… Prefiro a trilha sonora da natureza. Mas se fosse escolher alguma trilha, com toda certeza seria Blink-182, Angels And Airwaves, Green Day, No Use For A Name, New Found Glory, Sum 41…
Qual programa tu usa pra editar as tuas imagens? Quanto tempo tu costuma dedicar a edição das imagens?
As sessões eu costumo usar o Lightroom pela facilidade. Mas para editar as fotos que vou postar no meu Instagram, uso o Photoshop. Quando eu to em casa to editando fotos, criando…
Tu tá sempre na Silveira ou Ferrugem fazendo foto. Como é a tua relação com esses lugares? Mudou depois que tu passou a fotografar?
Mudou sim, comecei a olhar com outros olhos, mais artístico. A Silveira é especial porque foi lá que nasci. A Ferrugem foi onde comecei a fotografar surf. Então são duas praias que eu gosto muito. Enquanto tiver ondas nessas duas praias eu dificilmente saio para outro lugar.
Como é a tua relação com os surfistas?
De um modo geral é tranquila. Já tive problemas com alguns por achar fotos caras, por usar minhas fotos sem minha autorização… Coisa normal de qualquer fotógrafo.
Tu prefere trabalhar fazendo session aberta de freesurf da galera ou uma session exclusiva?
Eu prefiro uma session aberta. Assim posso registrar todo mundo, sem exceção.
O que é ser fotógrafo de surf pra ti?
É tudo, difícil falar até. Hoje eu sou feliz fotografando surf, gosto do contato com a natureza que essa profissão nos proporciona, das amizades que faço, do reconhecimento da galera.
Lá do teu início em 2007 pra cá, o que tu acha que mudou na fotografia de surf?
Pra mim mudou muita coisa. Começando pelo equipamento, o conhecimento, a evolução… E tá sempre mudando, a cada dia que passa é um novo aprendizado. Até a cabeça dos surfistas estão mudando, a galera está valorizando mais o nosso trabalho. Espero que continue sempre mudando para melhor.
Como tu faz pra evoluir tecnicamente na fotografia?
Nunca fiz curso ou faculdade sobre fotografia. Busco sempre na internet a evolução. Hoje temos muito conteúdo bom espalho pela rede e é só dedicar um pouco do tempo, na frente de um computador ou celular, que aprende muita coisa. Seguir bons fotógrafos nas redes sociais sempre foi muito importante na minha evolução.
A gente sabe que de forma geral é muito difícil viver de fotografia, assim como de qualquer tipo de arte. Como tu enxerga as dificuldades dessa profissão?
Muito difícil mesmo, tanto que tenho um trabalho fixo na parte da tarde. Se não fosse esse trabalho teria que vender meu equipamento. Mas as coisas estão mudando. Se tu focar e fizer um trabalho diferenciado, o reconhecimento vem. Vejo por mim, são mais de dez anos fotografando e muita coisa mudou mesmo sem curso ou faculdade, sem um fotógrafo do meu lado falando o que devo fazer.
Tem alguma foto/session em específico que tenha uma história que tu possa contar?
Acontece muito por aqui. Um surfista me procurou na praia e pediu para fazer umas fotos dele, que ele tinha muito interesse em comprar porque não tinha fotos surfando. Então dei um atenção especial. No fim foram mais de 50 fotos, foi umas seis sequências. Fui pra casa, editei e mostrei pra ele. Ele veio me falar que eu só peguei as ondas ruins dele e que não queria as fotos. Aproveito e quero deixar um recado pra galera que surfa: Não fazemos milagre!
Qual a tua foto preferida e porque?
Minha foto sem dúvida foi a que fiz em parceria com o atleta Marco Giorgi, na Praia do Silveira (Canto Norte). Foi em outubro de 2017, em uma tarde que eu tinha um intervalo de 1 hora apenas, ele convidou pra fazer uma foto no Silveira Norte porque tava rolando uns tubos nas pedras. É uma onda muito rara, é aquela onda que não quebra mais de três vezes por ano, então aceitei o convite. Chegamos lá e tinha que ser jogo rápido, o Marco é fantástico e na segunda tentativa emplacamos a foto que eu chamo de “a foto da vida”. Ainda mais por ser na Silveira, um tubo sensacional, ele bem posicionado… Contando que era Silveira muita gente não acredita.
Quem são os fotógrafos que inspiram o teu trabalho?
Tem muitos. Gosto muito do trabalho do William Zimmermann, da Guarda do Embaú. É amigo e to sempre trocando informações com ele, um fotógrafo e pessoa nota dez. Acompanho muito o Sebastian Rojas, Corey Wilson, Henrique Pinguim, Clark Little, Chris Burkard, Rambo Estrada, Diogo d’Orey, Rafaski e se continuar cito uns 100 nomes.
Quais teus planos e sonhos com a foto de surf?
O plano é viajar mais para fotografar novas ondas. E meu sonho é que todos valorizem o fotógrafo de surf. Ninguém fica cinco horas tomando sol na cabeça pra entregar fotos de graça depois. Tem que valorizar gurizada.
Que dica tu daria pra quem tá iniciando hoje na fotografia de surf?
Muita dedicação, leitura e paciência. Independente do equipamento, leia bastante e assista muitos vídeos no youtube. Tem muita informação boa. E se tu gosta, meu amigo, se joga!
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