Considerada uma das praias mais lindas do Brasil, a Guarda do Embaú é também uma onda clássica, e em 2016 recebeu o status de Reserva Mundial de Surf. Em todo o mundo, existem hoje 10 áreas com a mesma classificação, e a Guarda do Embaú é a única localizada no Brasil. Por isso, o surf na Guarda do Embaú é cobiçado por muitos surfistas.
Conheça as Reservas Mundiais de Surf da WSR (World Surf Reserves):
- Malibu (Estados Unidos)
- Ericeira (Portugal)
- Manly Beach (Austrália)
- Santa Cruz (Estados Unidos)
- Huanchaco (Peru)
- Bahia Todos Santos (México)
- Punta de Lobos (Chile)
- Gold Coast (Austrália)
- Guarda do Embaú (Brasil)
- Noosa (Austrália)
O que é uma Reserva Mundial de Surf?
As Reservas Mundiais de Surf são uma iniciativa criada em 2009 pela Save The Waves Coalition (Coalizão Salve as Ondas) em parceria com a ISA – International Surfing Association. O programa tem o objetivo de servir como um modelo global de preservação para regiões intimamente ligadas ao surf e suas comunidades, com reconhecido potencial ambiental, sociocultural e econômico.
Com iniciativas e metas de conservação e recuperação ambiental, educação e engajamento das comunidades locais, as associações responsáveis por cada uma das áreas realizam atividades, dialogam com lideranças locais e fiscalizam ações do poder público, sempre com o objetivo de conservar o meio ambiente e a qualidade da vida e das ondas no local.
No Brasil, as principais metas do projeto estão relacionadas à conservação da bacia do Rio da Madre, que desemboca no canto esquerdo da Guarda do Embaú. A saúde das águas do rio é fundamental para a formação das ondas, o turismo, a pesca e até mesmo para o cenário cinematográfico da região.
Surf na Guarda do Embaú
Localizada no litoral sul de Santa Catarina, numa pacata vila de pescadores na divisa entre os municípios de Palhoça e Paulo Lopes, a Guarda do Embaú foi descoberta pelos surfistas na década de 70, e por muito tempo permaneceu remota, distante do acesso de turistas de outros estados. Hoje em dia, a região se transforma no verão, quando turistas de todo o Brasil e também de países vizinhos chegam para aproveitar o visual paradisíaco e o astral da vila, que ferve no auge da temporada.
Para quem procura conhecer a onda da Guarda em seus melhores dias, os períodos mais indicados são os meses de agosto a novembro, quando as grandes lestadas escurecem e gelam a água, ligando a máquina de longas esquerdas – manobráveis ou super-tubulares – dependendo das condições de maré e vento. As esquerdas podem chegar aos 10 pés em dias para poucos. Nos dias clássicos, paredes de 6 a 8 pés chegam a abrir por mais de 500 metros, e o show de surf é garantido.
O reconhecimento como Reserva Mundial de Surf, concedido em 2016 vem ajudando a comunidade a se recuperar do trauma da morte do surfista profissional Ricardo Santos, atacado pelas costas na porta de casa por um ex-policial militar.
Ídolo local e respeitado em todo mundo por seu talento em ondas perigosas, Ricardinho inspirou e continua motivando os atletas locais. Hoje, desponta por lá o talento da jovem Tainá Hinckel, que em 2019 chegou às oitavas de final da etapa brasileira do WCT em Saquarema, vinda das triagens e superando grandes nomes como Sally Fitzgibbons e Nikky Van Dijk – tudo isso com apenas 16 anos de idade.
Guarda do Embaú – ponto de encontro do surf feminino
Para o surf feminino catarinense, a Guarda do Embaú também é um lugar especial. Por sua localização próxima às cidades de Imbituba, Garopaba e Florianópolis serve como ponto de encontro entre diferentes grupos de surfistas mulheres.
Desde 2016, esse movimento ganhou ainda mais força e todos os anos um grande encontro é organizado pelas meninas do Surf Feminino em Movimento – que realizam aulas, workshops, palestras e outras atividades.
(Obs: em 2020 o encontro foi suspenso devido à pandemia do novo coronavírus, mas deve retornar com força total em 2021)
Pesca da Tainha – Surf restrito durante parte do ano
Durante os meses de maio a julho, o surf fica restrito devido à Pesca da Tainha – uma velha tradição catarinense. Durante esses meses o surf é permitido apenas na Prainha, localizada ao norte da praia da Guarda – o que reduz drasticamente o fluxo de pessoas e leva muitas pousadas a fecharem as portas durante esse período, todos os anos.
Em outras regiões do estado, há maior flexibilidade por parte dos pescadores e um sistema de bandeiras orienta os surfistas sobre as áreas onde o esporte é permitido, e podem variar de acordo com as condições do mar. Na Guarda, não tem conversa. O surf é liberado apenas na Prainha, e ponto final.
Nota do autor:
Além da Guarda, já tive a oportunidade de conhecer as Reservas de Huanchaco, no Peru e da Ericeira, em Portugal. Em todos estes lugares, encontrei ondas de qualidade, uma comunidade de surfistas respeitada, forte identidade cultural e natureza privilegiada.
A diferença está no quanto os governos locais abraçam e apoiam a ideia. Em Portugal, a infra-estrutura da reserva inclui ampla estrutura de proteção das áreas de circulação, mirantes, praias com estacionamentos, amplos vestiários e wi-fi (tudo gratuito).
No Peru, a reserva de Huanchaco é um orgulho nacional e os cabalitos de totora (caiaques de palha utilizados pelos pescadores – que foram os primeiros a correr as ondas) são representados em todo o país. Com orgulho, dizem que foram eles quem inventaram o surf. Os havaianos não concordam, mas esse é outro assunto.
Já na Guarda do Embaú, a reserva é mais recente e o poder público parece ainda não ter se dado conta do grande potencial do projeto.
A conservação do Rio da Madre é fundamental e a Reserva Mundial merece todo nosso apoio e divulgação, mas com maior apoio público e privado, a Guarda do Embaú tem potencial para ser um modelo de turismo sustentável para todo o país.
Pensando em fazer uma surf trip por Santa Catarina? Conheça também a Praia da Joaquina.